Enxergar e Suportar a Dor do Outro

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas sentadasTanto aprendizado, lições urgindo partilha. O ensinamento que estamos vivendo repetidamente: Enxergar a dor do outro. E suportá-la. Sem apontar culpados. Sem nos transformarmos no que aspiramos combater. Ser amável. Vencer no amor.


Quantos de nós conseguem ver a agonia do irmão e agir em prol do alívio DELE em vez de agirmos para aliviar aquele sofrimento em nós primeiramente, em função da nossa angústia sabendo daquela dor. Brevemente posto, poucos de nós têm “olhos para ver”.


Quando algo me desanima em alguém, eu sou capaz de olhar aquele ser na inteireza dele e aguentar o que me desagrada sem deixar de conviver com ele, de amá-lo de perto – olho no olho? Sem que isto se traduza em manter relações abusivas obviamente.


Quando alguém que amo adoece, sou capaz de cuidá-lo? Ou me escondo por não aguentar vê-lo sofrer, furtando de mim mesma a consciência que EU não o suporto sofrendo. Triste, mas ele no fundo ainda é invisível para mim. Eu não o amparo porque estou presa nos meus próprios ais e lamentos, ignorando sua legítima dor.


Se algum de nós enfeita dissabores com cores inapropriadas distantes da fé, mentiras são aceitas e inverdades são criadas para que possamos estar confortavelmente na presença dele – quem seja. Mesmo que tenhamos que diminuí-lo. Pois não suportamos conhecê-lo inteiramente. Relações superficiais são estabelecidas: “Tudo bem? Tudo bom… Tudo bom? Tudo bem!”.


Nenhum texto alternativo automático disponível.Uma vasta maioria caminha se sentindo solitário não por estarmos, mas por não suportarmos avistar o outro em sua plenitude, então erguemos muros e destruímos pontes entre nós. Não vejo. E não me permito ser vista. Pois paira no inconsciente que se todos nos mostrarmos por quem realmente somos, não seremos amados. Iludida por carência, jamais amor, me torno amada por alguém que não sou, nunca serei. Nem quero ser! Mas me vejo obrigada a me tornar – do contrário, como suportaria que os que amo não me amassem com suas condições e padrões? Lamentável quem não permite que o outro não o ame. E se escraviza sendo amado dentro de uma prisão que se coloca voluntariamente.


Assim, bicho mulher faz plástica, pinta cabelo, não aceita envelhecer. Sofre com o inevitável. Bicho homem não consegue se livrar do estereótipo de provedor e vende sua alma em um trabalho que mata o mais valioso em si: seus sonhos. Bicho gente chora seus mortos – distante da crença de que os que amamos queimam no inferno, mas porque o inferno queima em nós na ausência deles. Choramos por nós, não por eles! E que nada disto tire nosso direito de viver nossos lutos. O ponto é: até quando nos deixaremos persuadir por tanto egoísmo? Astuto egoísmo. Até para quem o sente pode parecer que faz pelo outro, quando debaixo da pele, faz por si. Ego bendito, sempre presente. “Orar e vigiar” nos deixou o Mestre.


Sem mergulharmos nas chagas do outro para as curarmos com a compaixão de quem suporta, manteremos as nossas também abertas – escondidas sobre nossa alma retalhada de fraquezas e queixumes egóicos, atados ao samsara por cadeados que mantemos a chave trancada – nos calabouços de nosso coração!


Jamais suportaremos falar do leite do filho da Mestra Búfala que roubamos – porque no fundo não suportamos ser o carrasco dela. Nem suportaremos saber como Mestres Porquinhos são criados para o abate – não porque os vemos como seres de infinita graça, mas porque verdadeiramente não suportamos saber a verdade que colocaria em xeque nosso estilo de vida. E de repente, nós não sentimos tanto amor assim, a ponto de mudar algo em nós, abrindo mão de nossos vãos prazeres pelo outro.


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas sentadas e área internaDe forma similar, tampouco conheceremos nossos pais porque não nos sentaremos para conversar com eles sobre as angústias que carregam em seus corações, já que não os suportamos tristes! Jamais poderemos confortar um amigo que luta contra um câncer porque, de verdade, nós não temos estrutura emocional para lidar com isto. Então sentimos dó, muita pena. E nos distanciamos não deles, mas do que eles provocam em nós. Nós mesmos, a maior parte de nós, jamais os vimos. Em contrapartida, se resistirmos à nossa dor para sentir a dor do outro, amparamos. Servimos. E nós mesmos nos declaramos curados quando conseguimos olhar quem sofre sem que sofra em nós aquele mesmo sofredor, permitindo que sofra somente o que se sente quando nos colocamos no lugar do outro.A ponto de nos permitirmos ser apresentados para a elevação máxima do amor: a compaixão. Despertemos.


Nós convidamos todos os ousados e atrevidos a caminharem pelo mundo vendo e ouvindo o irmão que hurra de dor, que chora perdas, que implora misericórdia! Amá-lo a ponto de deixá-lo ser feliz longe de nós se preciso for, em vez de exigir que fique para nos fazer felizes!… Assim feito seremos capazes de saber dos nossos próprios mistérios, revelados na nossa coragem de encararmos nossas dores profundas, traumas de infância, distorções do amor em posse e ciúme.


Os Mestres Animais que aqui vivem e os que no Vale do Rei estão mandam convite para que suportemos a verdade. Só então seremos livres e retos. Do contrário agiremos em prol do alívio do que NÓS não aguentamos. Em vez de atender a real necessidade da irmandade carente de resgate. Lucidez.


Suportaremos a verdade – ou caminharemos até a beira do abismo, onde ele exige a força de nossas asas, para então regressarmos à terra sonhando com o voo (sem falarmos para nós mesmos nunca termos tido a coragem do salto).


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Mestres Animais estão protagonizando jogos de espelho conosco. Mostrando quem somos! Ensinando, despertando. Orientando. Despertemos para a dor do outro, que é nossa também. A capacidade de olhar nossas sombras e iluminá-las permitirá que ajudemos de fato quem sofre. Em vez de usá-lo simplesmente para nossos aprendizados e curas pessoais. Quando superarmos os limites da nossa própria dor então por fim estaremos a serviço. Enquanto isto, paradoxal e vexatoriamente, são os demais que nos servem a nós.


Gratidão a todos que mergulham em suas profundezas. E curados podem curar. Se prestando ao serviço.